O descontentamento e a confusão que se sente para as próximas eleições mostram que os portugueses sabem que as soluções que lhes apresentam são não-soluções. Esta será a 3ª vez que teremos o FMI dentro de portas em menos de 40 anos. Quando vamos colocar termo a este ciclo vicioso?
Viver acima das nossas possibilidades acarreta custos incomportáveis. Uma máquina de Estado doente de obesidade mórbida, salários chorudos e tratos principescos para quem nada produz, prémios milionários para quem arruina empresas, acumulação de reformas quando ainda não atingiram a idade nem descontaram anos suficientes, deputados que nada fazem e os seus ajudantes, ministérios que ocultam a sua inépcia numa névoa política dizendo sempre que estão a acompanhar tudo com muito interesse (provavelmente pelos jornais) e a fazer tudo o que podem para resolver a situação (velinhas e rezas a S. Expedito, presumo), bancos que cobram horrores e pagam menos impostos do que qualquer outro tipo de entidade neste país, entre muitos outros exemplos. É um triste rol que se nos apresenta, com uma factura altissima e a perspectiva de nada mudar para melhor.
Manteremos estes vampiros a sugar-nos o sangue enquanto não decidirmos arrear-lhes com o mata-moscas em cima. Temos de nos tornar produtivos novamente, competir com as mesmas armas que os outros povos usam quando colocam cá os seus produtos mais baratos do que os nossos, e com salários bem superiores, o que mostra que é possível. Não é megalomania quando estamos a falar de coisas que são reais. Ainda por cima nem temos de desbravar caminho, basta-nos ver como os outros fizeram e copiar. Já temos a palavra Descobrimentos inscrita na história do nosso País, não precisamos de continuar a inventar.
Há anos que nos endividamos cada vez mais, com o intuito de continuar a pagar dívidas. Onde estão as soluções geradoras de riqueza? Elas existem, há países que as possuem. O problema do nosso Portugal não é apenas a corrupção. Existe corrupção em qualquer país no mundo. E nem todos estão com tantos problemas nem carregam na campaínha do FMI como putos a brincar ao toca e foge.
Os velhos, que em duas décadas aprendemos a despezar, primeiro chamando-lhes botas de elástico, depois xéxés e mais tarde coisas que não vou mencionar por pudor, foram silenciados por supostos exemplos de sucesso por parte dos meninos que tinham estudado nas faculdades, os senhores doutores deste país. Arrogámo-nos a desbaratar a sabedoria dos que já sabiam alguma coisa desta vida, exibindo desdém e vergonha daqueles que passaram necessidades, muitos fome, mas que nos deram a vida e nos custearam os estudos, dando-nos canudos com os quais lhes batemos mais tarde nas cabeças ralas de cabelo, como se fossem martelinhos de carnaval, acompanhados por um sorriso condescendente e arranjando formas airosas e eruditas de lhes chamar estúpidos. Nós fingiamos que eles não percebiam, e eles faziam o mesmo.
Existe muita técnica moderna para problemas antigos, e com isso teremos sempre a aprender uns com os outros. Mas os antigos têm razão quando afirmam que um país que não produz o seu próprio alimento e não gera a sua riqueza fica nas mãos dos outros. Muitos questionaram os propósitos das políticas europeias, os motivos para nos pagarem para abandonar a frota pesqueira, porque havia subsidios para plantar num ano e arrancar as plantações no ano seguinte. Mas calámo-nos quando o dinheiro entrou, quando os estudos agricolas em Portugal permitiram o desenvolvimento de uma espécie de tomateiro que dava Jipes e videiras em que ao invés de uvas nasciam lindas moradias algarvias. Barcos que foram convertidos em lenha para o Inverno, tristes lembranças dos herois de outrora que arriscavam muitas vees mais do que deviam para trazer para terra o peixe que dávamos aos nossos filhos. Numa geração de “papa-hamburguers do MacDonald’s” para que queremos nós o peixe? Não precisamos de pescadores, mas de lenha... isso dá jeito. Pimba, solução alka-seltzer. Duas pastilhas num copo de água, é rápido e cura a azia.
Os nossos políticos, que estranhamente, ao aproximarem-se de Bruxelas ficam temporáriamente transformados em eunucos, venderam a nossa dignidade, a nossa honra, o nosso orgulho, o nosso presente e hipotecaram o nosso futuro. Tudo isto enquanto nós assistiamos a este desfilar de polítiquices, sem nunca acreditar que poderiamos enquanto sociedade ter alanvacagem suficiente para alterar o rumo das coisas, mantendo o país nos eixos. Preferimos ficar a observar, fascinados, a este fenómeno de uma espécie rara de políticos, cujos estículos variam em proporção inversa relativamente à proximidade a Bruxelas.
Cá são machos o suficiente para mandar a polícia e a GNR aviar na malta, lá são uns cordeirinhos que tudo fazem para não incomodar os designios dos poderosos europeus. São estes os patrões que nós servimos, num negócio estupido em que fazemos uma vaquinha nacional para pagar os seus salários. Um ministro é investido para servir o país, cada português pode e deve sentir-se um pouco como seu patrão, já que paga uma pequena fracção do seu salário. Estes funcionários que nos custam bem caro e não produzem nada, ainda nos roubam o pouco que há em caixa. Quando são apanhados com a mão na massa e questionados sobre a origem do dinheiro, ainda sorriem enquanto nos dizem nas barbas que são gorjetas que os clientes lhes deram.
Quando é que despedimos estes maus empregados por justa causa? Os motivos já os temos, só falta querer.