quarta-feira, 28 de abril de 2010

Já diz o velho ditado

Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.

Aconteceu ontem no parlamento Ucraniano. Eu realmente admiro quando um político defende com unhas e dentes aquilo em que acredita. Que raio, nem que seja o seu quinhão do golpe de 4 anos a que eles chamam de legislatura. Ao menos ladrões convictos, mas os políticos portugueses nem nisso possuem convicção já.


Mintam, finjam, mas façam alguma coisa para ainda acreditarmos que estão lá a defender alguma coisa. Ainda me resta um resquício de esperança de ver o Louçã a mandar com um sapato à testa do Sócrates. Infelizmente, somos tanto de brandos costumes, que o máximo que se vê um político português fazer ainda é isto: É importante dominar a arte da linguagem gestual para mantermos a compostura.

Eles comem tudo - Episódio 2

Acabo de ver a reportagem no telejornal da SIC sobre a exploração de crianças nas plantações de Cacau. Brutal.

Misturado com as notícias da situação preocupante do país, lá vem uma notícia onde se vê que há quem tenha bem pior do que nós, onde as crianças não vão à escola (haverão escolas lá?), e em que nos tentam fazer sentir culpados pelo destino dos infelizes que lá trabalham.

Bom, o as autoridades da Costa do Marfim são os primeiros responsáveis por permitirem que tais coisas se passem no seu território e com tanta frequência que se tornou normal. Em entrevista, um bacano vestido de fato informa que as crianças atravessam para lá fazendo turismo, coisa que é facilmente credível quando o povão não tem sequer para comer e vestir, mas vão passar férias à Costa do Marfim.

Em que podíamos nós ajudar a esta situação? Será facil resolver isto? Parece-me que sim. Adoptemos o plano do comum dos mortais que vê esta notícia enquanto come a sopinha de legumes, que a esta hora já terá azedado no estomago tal é a revolta.

Indignado, toma a decisão inabalável de não consumir mais chocolate, porque é produzido por mão de obra escrava. Parabéns, clap clap clap... e tal... Deixou de ser conivente com o tráfico e a escravatura. Extrapolemos a decisão deste moralista a toda a população mundial consumidora de cacau: Tenhamos 1 ano sem consumo de cacau e seus derivados. Todos nos sentiriamos bem melhor, mas em que é que isso iria benificiar a situação dos pobres desgraçados por quem a sopa se nos azeda na pança? Passarão a ter escolas, comida no prato, um tecto sobre as cabeças e cuidados de saúde? Deixarão de ser espancados? Eu cá tenho a leve impressão de que não, mas se calhar sou só eu.

Recordo-me do mesmo tipo de reportagens sobre a China, muita gente indignada sobre um povo que trabalha a troco de uma taça de arroz. Mas quantos de nós, além da indignação fizeram alguma coisa para melhorar a situação deles? Quantos de nós deixaram de comprar tenis Nike porque são feitos por crianças num país que fica no cu de Judas? E serve alguma coisa deixar de os comprar? Por mau que seja, o que quer que ganhem com esse trabalho, é o que as mantém vivas. Deixar de comprar esses produtos lança-os numa miséria maior ainda do que a que conhecem agora.

Não concordo com a exploração de ninguém, e por dois motivos. Porque é errado, cada pessoa deveria ter direito a uma compensação justa pelo seu trabalho, e também porque ao haver quem trabalhe virtualmente de graça, isso prejudica quem ganha razoavelmente bem com o que faz, já que cedo ou tarde, esses postos vão ser deslocados para quem os preencha por muito menos dinheiro.

Mas também não concordo com o facto de me tentarem obrigar a engolir notícias destas, sobretudo no dia em que os lideres dos maiores partidos portugueses dão as mãos numa de "vamos lá apertar com eles". O povo, que como de costume, não retira grandes beneficios das vacas gordas, acaba sempre a pagar quando a economia descamba.

Mais, alguém já pensou bem no que significa estar em crise? A crise efectivamente não é para os pobres, porque para esses é tão normal não terem dinheiro para as coisas mais básicas que pouca diferença existe. Estamos todos em crise é quando os ricos não conseguem ganhar tanto como no ano do pico dos seus lucros.

Já que falo do telejornal, aproveito para meter mais uma farpita. A Efacec possui uma fábrica de transformadores de alta tensão nos EUA. Porreiro, mas vejamos o que foi que o governo local fez para captar o interesse dos tugas: facilitou a integração, ofereceu o terreno, ofereceu a linha ferroviária para a fábrica, e presumo que também baixou as calcinhas na questão dos impostos. Semelhante ao que o governo português fez e ainda faz em relação à AutoEuropa. É impressão minha ou estamos perante o velho ditado "Santos da casa não fazem milagres"?

terça-feira, 27 de abril de 2010

Não me esqueci


Não tornei a desaparecer... o que aconteceu foi que cortei a porra do polegar na porra de uma lata de atum ontem à tarde. Não está tão fácil de escrever no teclado, mas.... vamos ver o que se arranja. Acho que ainda vai dar um post sobre atendimento hospitalar.

A parte chata agora é ter de tomar medicamentos, que eu odeio, e não poder beber as minhas jolas quando chego a casa para matar o calor. Porra!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Eles comem tudo - episódio 1

Há coisas que fazem revoltar até os hibernados mais sossegadinhos. Caso de mim mesmo (em sentido figurado), que tenho tido um longo soninho, nada descansado já que a minha vida tem dado bastantes voltas e o tempo não sobra para isto, nem a pachorra. Mas isso são outros 500 paus.

Os tubarões, não os bichinhos tadinhos, que apenas reagem à sua natureza e necessidade de sobreviver, mas os que andam entre nós em 2 pernas, continuam a fazer das suas. Não há esquema que não inventem para nos sacar os míseros tustos que ainda nos restam, e qualquer dia até lançam olhar cobiçoso à cervejinha que se bebe em casa (sim, a tal comprada no supermercado e nos meses bons, acompanhada do belo tremoço) com um amigo ou vizinho, enquanto nos tentamos esquecer que por mais que façamos, não saímos da cepa torta.

A dificuldade não é encontrar casos para relatar, o problema é por onde começar. Dá vontade de partir logo para os palavrões mais cabeludos que se conhece.

Começemos portanto, não pelo princípio, mas pela actualidade do jour; Professores sentem-se enganados, diz o DN aqui. Bom... aparte de alguns professores (dos quais todos conhecemos um ou dois exemplos) serem uns reais calões, e outros tantos sentirem-se como classe profissional previligiada, também é certo que muitos são excelentes profissionais. Portanto, provavelmente, a percentagem de manhosos não deverá desviar-se muito do restante das profissões. E não acredito que todos os que se manifestam estejam em total desacordo com o modelo das avaliações. O problema é que para discordar de uma virgula, é necessário ser-se contra porque de contrário está tudo bem.

Contar com os sindicatos está fora de questão como se tem vindo a ver. Também tenho aí a sensação de que estes abusaram dos poderes que lhes foram concedidos, deitando-se mais tarde à sombra da bananeira, pensando que apenas a menção do seu nome faria tremer qualquer entidade patronal. Apenas a ingenuidade poderia levar a pensar que tal realidade seria ad eternum.

Em abono da verdade, abertura a novos mercados não facilitou a tarefa. Passámos a ser comparados a outros povos, a competir num sistema com um conjunto de regras próprias e evolutivas, e sempre temos tido problemas em acompanhar os sinais dos tempos. Já não somos empreendedores como à 500 anos. Com o passar dos tempos, tornámo-nos moles e chegámos à conclusão de que é mais confortável andar a reboque, dá menos dores de cabeça, mas tem custos escondidos para o ingénuo que opta por esta via.

Não é minha opinião os professores foram traídos pelo Estado ao serem avaliados. Afinal, é em avaliações que se baseia a sua função, e é assim que medem os resultados daqueles que passam pelas suas mãos. Mas também tenho conhecimento de causa que os professores são em muitos casos o paradigma do velho ditado "faz o que te digo, não faças o que eu faço". Escudados do muito trabalho que possam ter, quando precisam de cumprir qualquer prazo ou fornecer alguma informação, estas em muitas situações não chegam a horas e raramente estão completas. Mas não abdicam de exigir aos seus alunos que o façam, apesar do seu exemplo ser o exacto oposto.

É complicado falar de qualquer classe profissional ou grupo, porque quando os observamos, geralmente damos destaque aos maus exemplos porque são esses que nos saltam à vista. Mas se as coisas ainda funcionam, tal deve-se a muitos bons profissionais, alguns dos quais tive a honra de ter como meus mestres.

Não sendo nas avaliações que o Estado traiu os professores, terá de haver algum lugar onde o tenha feito. E foi precisamente na sua dignidade. Ao não separar o trigo do joio, faz pagar o justo pelo pecador. O professor tornou-se nas ultimas décadas a figura de todo o mal, o anti-cristo académico. Havia que os fazer pagar pelos abusos do Passado, ainda que os actuais talvez ainda nem fossem vivos, sendo o seu único pecado perpetuarem uma profissão de passagem de conhecimento.

Os meninos dos tempos modernos conquistaram aos poucos o direito a achincalhar o professor, sendo este um escape para as suas rebeldias juvenis e crises de identidade. Claro que é chique e está na moda chegar a casa e fazer queixa dos professores, que são estúpidos, incompetentes, não sabem nada, e desta forma, muitos alunos conseguem disfarçar a sua ronhice e consequentes maus resultados.
Um professor exigente é uma besta, um que come umas sandes com os alunos no bar é um porreiraço. Os jovens confundem o profissional com o social, e em casa muitas vezes não possuem quem lhes esclareça essas indefinições.

Depois, chegam os pedagogos, essa corja pseudo-erudita, que defende que o aluno não pode ser contrariado para não ficar traumatizado. O jovem, não percebe assim que podem existir limites, e que ultrapassá-los tem custos, os quais não são anulados com os choradinhos que se habituaram a fazer aos pais para obter as guloseimas mais apetecidas. Mas eis que entra o Estado, armado de ideias liberais! Os pedagogos é que têm razão, a pedagogia é moderna, e portanto, melhor. E joga-se fora tudo aquilo com que foi construida a formação dos grandes homens que hoje alteram as leis. Foi mudar por mudar, sem ter a calma suficiente para se perceber porque é que aquilo que tinhamos passado ao longo de gerações, de repente já não serve. Creio que nem se percebeu se a coisa servia ou não, era urgente mudar, porque pior do que estávamos não dava. Oh ingénuas mentes, quão errados estáveis. Na senda do deita abaixo, vamos também retirar toda a importancia e dignidade dos professores, os meninos que façam o que entenderem, carte blanche de hoje em diante. E os professores, esses facínoras, é comer e calar, se é que querem continuar em funções. Aliás, recentemente, já os próprios pais são impedidos à luz da lei de dar um tabefe a um filho caso este se porte mal. A loucura chega a isto.

Para que a escola sirva para alguma coisa, esta necessita de oferecer ao aluno um ambiente simulado onde este aprende a estar em sociedade. Aprende a ter objectivos, aprende a ter prazos a cumprir, deveria aprender a aprender, coisa que ninguém ensina. É estupido, mas ninguém ensina ao aluno como estudar. E isto devia ser a primeira coisa que um aluno deveria aprender. Não como escrever, não como fazer contas, mas a coisa mais básica: dar-lhe ferramentas para interiorizar mais facilmente e de forma mais eficiente os conhecimentos que deverão obter segundo o programa definido. Dar-lhe forma de ser autónomo naquilo que se lhe vai ser exigido que o seja. É evidente que como está, a maior parte vai falhar e andar às cabeçadas até conseguir alguma medida de sucesso. É de estranhar que os filhos de licenciados tenham uma maior percentagem de sucesso nos estudos do que os restantes? Não para mim. Esses pelo menos têm alguém que lhes dê pistas sobre como optimizar os seus esforços.

A escola não é uma coisa divertida, estudar não é divertido. O que nos dá prazer é conseguir resolver os problemas que nos passam, ultrapassar os desafios e poder dizer "consegui, fui capaz". Creio estar aqui a raíz de toda a frustração sentida por alunos e professores. O que eu teria feito diferente se soubesse o que sei hoje... Se tivesse a noção de que chegaria uma altura em que sentiria saudades de estudar e não seria nada fácil; que teria a necessidade de aprender e não teria tempo para isso entre o trabalho e a vida familiar... Problema aqui: como é que um pai que acaba por perceber isto, passa essa noção de forma a que seja útil a uma criança, sem que lhe deite um pêso em cima, criando stress e ansiedade? Com muita calma, apoio e acompanhamento, inclusivamente, deixando-o falhar uma vez por outra, para que perceba que é uma possibilidade caso não se esforce. Espero lembrar-me bem disto tudo quando chegar a minha vez.

Chega de pais que se divorciaram da sua função, que largam os filhos nas escolas e esperam que os professores sejam educadores. Chega de pais que mal os filhos fazem queixa dos professores entram pelas salas e remodelam a cara do desgraçado que atura mais dos seus filhos do que os próprios pais. Chega de os professores serem o elo mais fraco e terem de aturar as merdas dos encarregados de educação que sem outro sitio onde largar as suas frustrações, optam por fazer do professor um saco de boxe. E chega também de um Estado que força os professores a gramar com alunos que não querem fazer nada, e porque se sentem aborrecidos, passam o tempo a impedir os outros de aprender e quando isso não chega, passam a medir forças com os professores, sabendo que não podem ser castigados.

Esta é a grande traição do Estado perante os professores, não as avaliações. Todos somos avaliados, em todas as restantes profissões. E não poder diferenciar os maus profissionais dos bons, é dizer que por mais que façam, são sempre iguais. O Estado tirou-lhes as ferramentas de trabalho, impediu-os de disciplinar os alunos. Depois disso tirou-lhes o respeito e a dignidade. E o que deu em troca? Absolutamente nada. Um professor hoje é tratado como uma cabeça de gado. Dá-se-lhe X de farelo, obtem-se Y de leite.

Esta parte da nossa sociedade precisa de um abanão forte mas na direcção certa. Tal como as restantes, no fundo. Raios, tenho quase 34 anos, uma mulher com quem aposto em viver até sermos velhinhos e desdentados, e estamos ambos arriscados a ter um cheiro nauseabundo a fraldas cá em casa um dia destes. Que futuro terá uma criança no estado actual da sociedade, especialmente na parte da educação que é o primeiro embate com a realidade?

(Isto continua)