quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Ser fiador... grande merda!

Isto vai numa grande diferença em relação à última entrada no blog, mas também muito tempo passou e muita água por baixo da ponte rolou.

Ando, como a maior parte dos portugueses, cansado de aturar isto. Sinto-me como se fosse fiador do Estado. Eles (governos) compram submarinos que não navegam, constroem pontes, fazem autoestradas que ficam desertas, planeiam aeroportos e comboios de alta velocidade, e quando não há dinheiro, sou eu o fiador que tem de se chegar à frente.

E sem saber como nem porquê, encontro-me com 36 anos e uma perspectiva de levar 30 anos a pagar uma dívida que não contraí. Até à idade da reforma, portanto, que muito provavelmente não terei. Ou seja, condenado a trabalhos forçados e a ganhar cada vez menos, com uma perspectiva de enterrar tudo o que são os sonhos típicos de um país europeu (mesmo que seja um país pobretanas como Portugal).

Não faço ideia do que será um sistema melhor do que a democracia (esta que temos), mas perfeito não é. Os políticos na oposição são oposição, que teimosamente está sempre contra e propõem a proposta oposta, e quando passam para governo são accionistas que possuem 4 anos para sacar tudo quanto possam porque a reeleição não é garantida. E estas são as duas cassetes disponiveis, a do governo e a da oposição, que eles trocam com facilidade entre si consoante as vontades do povão.

E não aprendemos o suficiente quando estas coisas nos acontecem, quando eles destroem o país e sacrificam o pessoal sem pestanejar. Filhos da puta profissionais, agem com a frieza própria de quem já repete pela enésima vez os mesmos actos, insensíveis ao sofrimento das pessoas que os elegem num acto de desespero, votando em quem acham menos mau, elegendo hoje não por mérito de quem ganha, mas por demérito de quem perde.

Por mais que venham com discursos encorajadores, o facto de terem gritado lobo demasiadas vezes faz com que ninguém já acredite. Olho em volta e vejo amigos e colegas de braços caídos, sem ânimo no olhar, com raiva a rilhar os dentes e cada um destes, se pudesse não ser apanhado, limpava o sarampo a estes cabrões que nos hipotecam as vidas.

Que futuro para os que estão a atingir a idade das reformas? Que futuro para aqueles que como eu estão a atingir o meio das suas carreiras profissionais? Que futuro para as crianças que nascem hoje?

Saltar fora é uma solução? Seguir os passos de quem já o fez, exercendo o direito a dizer que mesmo sendo fiador, não tenho dinheiro para pagar e não contem comigo. Sair e partir sem olhar para trás, pois levarei os olhos mareados, uma dor no peito onde cabe tudo o que deixo para trás, forçado a uma separação que não sei se ou quando acontecerá, mas que a acontecer foi porque fui forçado a tal.

Não se esquecem os cheiros da nossa terra, os olhares de quem ficou, os sorrisos que nos habituamos a ver, as oliveiras nos campos, a espuma nas ondas que se esbatem nas praias... esta terra ancestral, que antes de a chamarmos nossa foi de outros, mas que sempre foi a mesma. Esta alma crivada de tanta coisa que nos define, que engloba a nossa alegre tristeza, que enche as vozes de orgulho quando falamos deste país aos estrangeiros... que invariavelmente vêem que afinal os portugueses amam profundamente o seu país apesar de falarem mal dele pelo menos 30 vezes ao dia, e isto é parte do nosso infindável conjunto de contradições.

Porque é assim que somos e nos vemos: incoerentes e lógicos, capazes e incompetentes, criativos e botas de elástico, génios e estúpidos, corajosos e borrados de medo, miseráveis e riquíssimos... e tudo quanto possamos pensar e que tenha um antónimo. Somos um bota-abaixo que deseja ardentemente ver o nosso próprio sucesso. Somos afinal... portugueses. Marinheiros em espírito, impelidos pela vontade de ver o que está para lá do próximo monte ou para lá do horizonte. Olhando as águas e imaginando o que escondem as ondas. O que sabem as gaivotas que nós não sabemos ainda...!?

E nisto nos encontramos, dentro desta gaiola outrora dourada mas cuja corrosão se começa a notar bastante nas grades. De porta aberta por um primeiro-ministro que nos descarta como se fôssemos uma coisa incómoda, preocupado mais com índices e estatísticas de uma folha de excel do que com a essência deste povo que tanta coisa já aguentou para agora chegar a isto... uma laranja a ser chupada até não restar mais nada, e jogada fora com desprezo.

Pois eu posso ter que viver com fome ou bonança, qual o meu destino não sei. Mas ainda que seja a fome, que seja a que eu escolhi e não aquela que me quiseram impôr. Posso um dia morrer de fome, mas que seja livre e não debaixo do jugo de um cabrão com uma licença do microsoft office. Ouviram seus pulhas?? Livre!!!