quarta-feira, 28 de abril de 2010

Eles comem tudo - Episódio 2

Acabo de ver a reportagem no telejornal da SIC sobre a exploração de crianças nas plantações de Cacau. Brutal.

Misturado com as notícias da situação preocupante do país, lá vem uma notícia onde se vê que há quem tenha bem pior do que nós, onde as crianças não vão à escola (haverão escolas lá?), e em que nos tentam fazer sentir culpados pelo destino dos infelizes que lá trabalham.

Bom, o as autoridades da Costa do Marfim são os primeiros responsáveis por permitirem que tais coisas se passem no seu território e com tanta frequência que se tornou normal. Em entrevista, um bacano vestido de fato informa que as crianças atravessam para lá fazendo turismo, coisa que é facilmente credível quando o povão não tem sequer para comer e vestir, mas vão passar férias à Costa do Marfim.

Em que podíamos nós ajudar a esta situação? Será facil resolver isto? Parece-me que sim. Adoptemos o plano do comum dos mortais que vê esta notícia enquanto come a sopinha de legumes, que a esta hora já terá azedado no estomago tal é a revolta.

Indignado, toma a decisão inabalável de não consumir mais chocolate, porque é produzido por mão de obra escrava. Parabéns, clap clap clap... e tal... Deixou de ser conivente com o tráfico e a escravatura. Extrapolemos a decisão deste moralista a toda a população mundial consumidora de cacau: Tenhamos 1 ano sem consumo de cacau e seus derivados. Todos nos sentiriamos bem melhor, mas em que é que isso iria benificiar a situação dos pobres desgraçados por quem a sopa se nos azeda na pança? Passarão a ter escolas, comida no prato, um tecto sobre as cabeças e cuidados de saúde? Deixarão de ser espancados? Eu cá tenho a leve impressão de que não, mas se calhar sou só eu.

Recordo-me do mesmo tipo de reportagens sobre a China, muita gente indignada sobre um povo que trabalha a troco de uma taça de arroz. Mas quantos de nós, além da indignação fizeram alguma coisa para melhorar a situação deles? Quantos de nós deixaram de comprar tenis Nike porque são feitos por crianças num país que fica no cu de Judas? E serve alguma coisa deixar de os comprar? Por mau que seja, o que quer que ganhem com esse trabalho, é o que as mantém vivas. Deixar de comprar esses produtos lança-os numa miséria maior ainda do que a que conhecem agora.

Não concordo com a exploração de ninguém, e por dois motivos. Porque é errado, cada pessoa deveria ter direito a uma compensação justa pelo seu trabalho, e também porque ao haver quem trabalhe virtualmente de graça, isso prejudica quem ganha razoavelmente bem com o que faz, já que cedo ou tarde, esses postos vão ser deslocados para quem os preencha por muito menos dinheiro.

Mas também não concordo com o facto de me tentarem obrigar a engolir notícias destas, sobretudo no dia em que os lideres dos maiores partidos portugueses dão as mãos numa de "vamos lá apertar com eles". O povo, que como de costume, não retira grandes beneficios das vacas gordas, acaba sempre a pagar quando a economia descamba.

Mais, alguém já pensou bem no que significa estar em crise? A crise efectivamente não é para os pobres, porque para esses é tão normal não terem dinheiro para as coisas mais básicas que pouca diferença existe. Estamos todos em crise é quando os ricos não conseguem ganhar tanto como no ano do pico dos seus lucros.

Já que falo do telejornal, aproveito para meter mais uma farpita. A Efacec possui uma fábrica de transformadores de alta tensão nos EUA. Porreiro, mas vejamos o que foi que o governo local fez para captar o interesse dos tugas: facilitou a integração, ofereceu o terreno, ofereceu a linha ferroviária para a fábrica, e presumo que também baixou as calcinhas na questão dos impostos. Semelhante ao que o governo português fez e ainda faz em relação à AutoEuropa. É impressão minha ou estamos perante o velho ditado "Santos da casa não fazem milagres"?

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