terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Portugal... tão pouca palavra e tantos significados...
Sou hoje confrontado com os mistérios deste meu país. Com as razões pelas quais tantos se entregaram ao sacrifício supremo. Não é pelo chão, é por muita coisa para lá disso.

Gosto da definição da importância de Portugal existir por Agostinho da Silva. Portugal é algo que fará sempre sentido. Pelo menos enquanto todo o mundo não for Portugal. Até lá teremos sempre um papel a desempenhar.

No coração de cada anarca Portugal viverá. No peito de cada um capaz de sacrificar o inimaginável por um ideal, lá estará Portugal. Na loucura, na aventura, no riso tolo, no fado da vida de cada um que se entrega aos desígnios de um ser mais alto, lá estaremos todos, os tolos e sonhadores, a nação portuguesa que com terra ou sem ela vive em cada um de nós.

O português é livre em si mesmo. É alguém simultâneamente capaz do melhor e do pior. Era impossível, mas o português não o sabia e fez acontecer: É assim que somos. Grandiosos na nossa mediocridade, mediocres na grandeza do nosso âmago.

Quatro cantos do mundo, sete mares, quatro ventos... estamos em toda a parte. Porque ser-se português não é acerca de onde nascemos, é acerca do que nos tornamos. E isso foi-me ensinado por um amigo, nascido no Brasil, mas que a dada altura se tornou Português de pleno direito. Não por um cartão de cidadão, mas de coração. Nenhum estrangeiro que sai de Portugal com uma lágrima no canto do olho já é apenas estrangeiro. Foi mudado pela nossa alegre tristeza, pelo nosso fado, pela forma demorada como nos entregamos e nos deixamos levar.


Os vários sabores que temos, nas terras por onde passámos mostram as várias dimensões que temos. Angola, Guiné, Moçambique, Brasil, Goa, Damão, Macau, Timor... tanta coisa, tantos povos, tantas experiências...

Ser português não é apenas nascer em Portugal. Alguns nascem e morrem cá e nunca foram nem serão portugueses. É necessário mais do que isso, alguma faísca especial. É preciso um coração generoso, de quem por vezes não sabe reconhecer quem se quer aproveitar de nós, mas dá assim mesmo. Alguns nascem longe, mas abrindo os seus corações, tornam-se portugueses mesmo sem o saberem. Porque é essa a forma mais genuína e certa de se ser português. Através da ingenuidade do amor. Ser português não é apenas arriscar a vida em defesa da pátria. É muito mais do que isso. Ser português é ser tudo e não ser nada. É oscilar entre alegria e tristeza sem limites e como se não houvesse amanhã. É não ter medo de nada e receio de tudo. Ser português é ser-se apaixonado pelo seu país e suas gentes sem o saber excepto na hora da partida. Ser português é falar mal de quem se ama mais, quase pedindo as maiores desgraças como castigo pela sua estupidez, enquanto lá no fundo se deseja que nada de mal aconteça e tudo se resolva pelo melhor.

Por mais que eu escreva, sei que um dia vou considerar estas palavras como incorrectas e insuficientes. Porque um português não se explica. Não existe um manual explicativo. As pessoas ou se sentem portuguesas ou não. Não há meio termo. Ninguém é 30% português, ou 70%. Ou se é totalmente, ou não se é. Porque para se ser português não se pode ter reservas relativamente a isso. Ser português é uma experiência que se vive o resto da vida. E termino dizendo o meu obrigado a todos aqueles que resolveram abrir-se a essa experiência, mesmo que não tenham gostado. É que ser português não é melhor nem pior do que os outros. É simplesmente ser diferente e genuíno.

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